19 outubro 2007

ENTREVISTÃO COM O ESCRITOR DOS CONTOS BREGAS




Se você

é jovem e é muito inteligente, leia na íntegra.

Se é maduro e já leu de tudo, leia sem compromisso.

Quem gosta de escrever e rir de si mesmo, leia e procure saber quem é Thiago de Góes.

Ele é jovem na idade, ágil na escrita e perspicaz com seu pensamento. Escreve no blog Contos Bregas e já publicou dois livros, “Contos Bregas” (2005) e “Lobas, Deusas e Ninfetas” (2007). Quem é o jovem que surge reescrevendo os compositores no competitivo mundo editorial? Quem é este menestrel que para mostrar sua arte, dispensou o canto e ficou com as letras?

Impondo seu ponto de vista (pode acreditar), segue indiferente ao preconceito que impera sobre os cantores populares, e extrai das inesquecíveis canções, contos que são indispensáveis aos estreantes na sétima arte, pois de tão bem tratados, os contos dispensam a famosa adaptação. Escritor que se orgulha da obra que faz e que se emociona facilmente quando o leitor reconhece seu talento.

Chega de enrolação, pois o monstro sagrado, o qual me refiro, nem é tão monstro assim. Tudo bem que já tem indicação (minha) para a Academia Brasileira de Letras, mas elogiar muito pode estragar, e talvez eu venha no futuro perder sua amizade, de tão famoso que ele será. Seu nome é Thiago de Góes, nome muito comum lá pelas bandas de Jerusalém nos tempos de Jesus, e que foi registrado em larga escala nos cartórios do Brasil dos anos 80. Nomeação que pode ser resultado do crescimento desmedido e da propagação do evangelho no país nas três últimas décadas. Veja que o xará mais famoso do nosso caro escritor, também era escritor e seu livro é datado 48-62 d.C. Seu nome? Tiago (James em inglês) apóstolo irmão de Jesus.

Devido ao tratamento que emprega na narração dos contos, Thiago laça e seduz o leitor, logo na primeira página. Qual o segredo? Vamos ficar sabendo a partir de agora. Com vocês: o próprio Thiago de Góes.

1-Música Popular do Brasil: vamos começar pelo que normalmente se pergunta no fim. Quando sai o próximo livro? Já tem nome?

Thiago de Góes: Eu já tenho alguns projetos em mente. Apesar de já ter começado a escrevê-los, não vou me pôr prazos para terminá-los. Isto significa que podem demorar a virar livros.

2-MP do Brasil: fale um pouco mais sobre como será cada um dos projetos.

TG:Um deles será uma coletânea de pequenos contos, construídos em torno do imaginário dos anos 80, que já comecei a escrever. São textos nostálgicos e bem humorados sobre coisas que povoaram a infância daqueles que hoje têm 20 e poucos anos, como a primeira febre dos videogames, artistas como a Xuxa e as Paquitas, a propaganda do coelhinho do Qüick, entre outros ícones daquela década que teima em não sair de moda. Já tenho mais de 10 escritos. A meta é chegar aos 80 contos.

Também comecei a escrever uma série de contos de paródia sobre a política brasileira, na qual construo uma realidade paralela onde personagens políticos vivenciam situações que os “denunciam” na vida real. Por exemplo, construí um conto fantástico a partir da declaração “Relaxa e Goza”, no qual uma noiva que precisa pegar um vôo às vésperas do casamento enfrenta todos os problemas do caos aéreo brasileiro, ao mesmo tempo em que começa a enxergar a frase de Marta Suplicy em todos os letreiros luminosos que vê pelo caminho e a ouvi-la da boca de todas as pessoas a quem pede informação.

Agora, o meu maior projeto literário ainda não comecei a escrevê-lo, nem me considero suficientemente maduro para iniciá-lo. Trata-se de um romance no qual vou misturar viagens no tempo e realidades paralelas, tempo e memória. Talvez seja a história de um velho que, ao invés de morrer, começa a viver sua vida novamente, mas sem ter consciência do fato. Seria como se fosse uma nova chance para ele. Mas aos poucos, ele vai se lembrando de coisas em flashes de dejà vu. Mas como disse, não posso dizer quando esses três projetos poderão virar livros. Quanto aos nomes podem ser, respectivamente, 80 contos dos anos 80, Relaxa e Leia, e Templo da Memória.

Vou, contudo, preparar uma segunda edição dos Contos Bregas, reunindo somente os melhores contos dos dois livros já publicados (Contos Bregas e Lobas, Deusas e Ninfetas), assim que se esgotarem os exemplares de ambos.

3-MP do Brasil: como era o Thiago na infância? Era rico, pobre ou remediado? (duas perguntas)

TG: Venho de uma família de classe média. Nunca me faltou nada. Eu tinha poucos, mas verdadeiros amigos. Gostava de brincar de bola de gude na rua de barro, de jogar videogame e jogos de tabuleiro. Parodiando uma antiga canção popular, eu diria que “era feliz e não sabia”.

4-MP do Brasil: a partir de quando você começou a ler, e quais foram os primeiros livros lidos, ainda na infância?

TG:Comecei a ler as histórias em quadrinhos. Gostava muito da Turma da Mônica, do Tio Patinhas, Pato Donald e companhia. Mais tarde, descobri também os gibis dos super heróis. Quanto aos primeiros livros, lembro do Pequeno Príncipe e do Menino do Dedo Verde. Também adorei alguns livros da Coleção Vagalume, como Spharion.

5-MP do Brasil: a educação que você recebeu no ensino fundamental, influenciou na sua escolha pelo caminho da literatura?

TG: Eu apontaria muito mais o segundo grau como influência. Havia uma professora de literatura que incentivava o amor pela literatura. Foi quando conheci os clássicos da literatura brasileira e comecei a compor poemas.

6-MP do Brasil: você atua como jornalista? De que forma?

TG: Minha carreira de jornalista deu-se sempre em assessorias de imprensa. Comecei estagiando na Agência de Comunicação da UFRN. Depois, já formado, fui contratado como assessor de imprensa de uma tradicional escola católica de ensino básico de Natal, onde havia estudado do primeiro grau ao vestibular. Também trabalhei na Oficina da Notícia, em Natal, onde produzi alguns house-organs de empresas natalenses e escrevi para uma edição anual da revista Empresas e Empresários. Então passei no concurso do Banco do Nordeste, onde hoje trabalho na assessoria de comunicação da empresa, em Fortaleza. Nunca trabalhei em jornal, rádio ou televisão.

“O livro Contos Bregas, é dedicado “aos que riem de si mesmos”. Rir de si mesmo é uma grande virtude.”

7-MP do Brasil: você realmente gosta das músicas que te inspiram nos contos ou ouve-as apenas para tal?

TG: Gosto sim. Ouço no carro ou em casa, sempre que posso. Se eu não gostasse das músicas, não escreveria contos inspirados nelas. Gosto das canções populares não somente pela melodia fácil, mas porque possuem conteúdos altamente narrativos, ricos em personagens que representam muito bem a alma brasileira. Onde muitos enxergam superficialidade eu vejo beleza. Por exemplo, a simplicidade, a despretensão e a objetividade da música verdadeiramente popular são, para mim, sinônimos de beleza. Para outros, preconceituosos, não. Já escrevi até um poema falando da “irresistível beleza das rimas previsíveis”.

8-MP do Brasil: para o leitor que te acompanha pelo blog e pelos livros, passa a impressão de que o Thiago tem duas visões da vida: uma cômica e outra trágica. É assim mesmo ou minha lente está embaçada?

TG: Mas a vida é assim mesmo, não é? Uma hora, rimos para não chorar. Noutra, choramos de tanto rir. Em outros momentos, somos capazes até de zombar das lágrimas sinceras de outrora. O livro Contos Bregas, inclusive, é dedicado “aos que riem de si mesmos”. Rir de si mesmo é uma grande virtude. A vida é ao mesmo tempo trágica e cômica, uma sucessão contínua de risos e lágrimas. Tento passar esta dualidade para os meus contos. Eles não são contos só de humor ou só trágicos. São tragicômicos.

9-MP do Brasil: descreva como foi seu dia, da hora que você acordou até o momento em que responde esta pergunta.

TG: Pela manhã, fiquei em casa cuidando de minha noiva, que está com Rubéola. Resolvi também algumas coisas do nosso casamento, que será no mês que vem. Estamos ansiosos para a chegada deste importante momento em nossas vidas. E pela tarde fui ao trabalho.

“Rubem Fonseca: esse cara escreveu tudo o que eu gostaria de escrever e nunca escrevi. Ele escreveu primeiro!”

10-MP do Brasil: que métodos você usa para escrever? Segue alguma disciplina?

TG: Geralmente, eu começo a escrever com 70% do conto na cabeça. Os outros 30% surgem no decorrer da escrita. Não tenho disciplina. A história fica na cabeça até eu pô-la no papel.

11-MP do Brasil: existem muitos escritores jovens no Brasil, assim como há muitos manuscritos guardados em gavetas. Explica passo a passo, sua trajetória da criação a publicação do primeiro livro.

TG: Primeiramente, mandava meus contos por e-mail, para os amigos. O conto Garçom, inspirado na música de Reginaldo Rossi, fez bastante sucesso. Muitos começaram a pedir contos inspirados em outras músicas. Então decidi criar o blog. Nesta mesma época, Carlos Fialho convidou-me para participar dos Jovens Escribas. Aí vi que podia escrever um livro somente com contos epigrafados por versos de músicas populares. Alguns meses depois, meu livro foi lançado em Natal (RN), pelo selo dos Jovens Escribas.

12-MP do Brasil: você é o escritor que eu conheço, que é também o maior relações públicas da própria obra. O que falta para a obra de um escritor (ainda) regional, tão bom como Thiago de Góes, tornar-se acessível nacionalmente?

TG: Eu queria ter mais tempo para me dedicar ainda mais à divulgação da obra. Para mim, divulgar o livro é tão bom quanto escrevê-lo. Infelizmente, no Brasil não há como se viver apenas de literatura. Se fosse possível, eu me dedicaria integralmente à promoção dos livros e assim eles teriam mais chance de serem conhecidos nacionalmente. E, a cada dia, o escritor vai se aperfeiçoando. A prática vai ensinando coisas. Eu espero que cada livro que eu publicar seja melhor que o anterior.

13-MP do Brasil: cite os escritores que admira. Se possível relacione à obra.

TG: Minha grande influência literária é, sem dúvida, Rubem Fonseca. Quando li os contos reunidos dele, disse para mim mesmo: esse cara escreveu tudo o que eu gostaria de escrever e nunca escrevi. Ele escreveu primeiro! Fora ele, gosto de literatura fantástica e policial. Adoro os contos de mistério de Edgar Allan Poe e Conan Doyle.

“Encaro a palavra brega com dois significados: adjetivo e substantivo. Algumas pessoas acham “Você não me ensinou a te esquecer” brega na voz de Fernando Mendes e chique na voz de Caetano Veloso. A música, porém, é a mesma.”

14-MP do Brasil: e dos cantores? De quem mais gosta?

TG: Os populares Odair José, Fernando Mendes, Reginaldo Rossi e Waldick Soriano são os melhores. Quanto às mulheres, Alcione e Roberta Miranda. Dos considerados “chiques”, prefiro a obra de Caetano Veloso, Zé Ramalho e Jorge Ben.

MP do Brasil: o que há de novo e interessante na música?

TG: Há uma banda de rock brega lá em Natal que tenho certeza fará sucesso nacional. Eles são demais. Aposto neles desde o primeiro momento que os ouvi. Estou falando da Belina Mamão. Inclusive, no final do mês eles já estão se mudando para São Paulo. Pode anotar, em breve você os verá no Jô Soares ou no Faustão, ou no Raul Gil...

15-MP do Brasil: este blog foi criado para armazenar informações sobre a vida e a obra de artistas populares, vítimas de preconceitos determinantes, artistas que receberam de críticos precipitados, alcunhas pejorativas como brega, cafona, ruim e regional. Sem querer reafirmar o preconceito, brega é a palavra certa para pôr no mesmo nível, cantores como Odair José, Adelino Nascimento e Genival Santos?

TG: Eu encaro a palavra brega com dois significados: adjetivo e substantivo. O adjetivo brega é pejorativo e denota preconceito de classe. Este preconceito explica porque algumas pessoas acham “Você não me ensinou a te esquecer” brega na voz de Fernando Mendes e chique na voz de Caetano Veloso. A música, porém, é a mesma. O substantivo brega refere-se a um estilo musical, ou filosofia de vida, que prima por conteúdos simples, sinceros, objetivos, despretensiosos e extremamente românticos e passionais. Neste sentido, considero bregas os três cantores citados por você. Mas quando digo isso, estou elogiando. Agora, é claro que cada um tem suas especificidades, seu estilo pessoal, que devem ser levados em consideração. Com certeza, eles têm pontos em comum, mas muitas diferenças. E é justo que elas sejam reconhecidas.

“Quando apenas um leitor diz que gostou do livro, o autor sente que já valeu tê-lo escrito.”

16-MP do Brasil: quantas pessoas já leram seus livros?

TG: A primeira edição dos Contos Bregas teve 600 exemplares e já está se esgotando. Porém, fiz muitos leitores a partir do blog e do e-mail. E há exemplares que são lidos por mais de uma pessoa. “Lobas, Deusas e Ninfetas” teve 500 exemplares impressos. Ambos os livros possuem um ritmo de venda constante e em breve se esgotarão. Quando apenas um leitor diz que gostou do livro, o autor sente que já valeu tê-lo escrito.

17-MP do Brasil: além do Bartô Galeno, que leu o conto na minha frente e adorou, algum outro cantor que você musicou já leu o livro? Fale sobre isso.

TG: Com certeza Falcão e Kátia, que prefaciaram os livros. Já entreguei pessoalmente os Contos Bregas para Odair José, Waldick Soriano e Genival Santos, em shows dele. Também já mandei para a assessoria de Amado Batista, Wando, Márcio Greyck, e para um membro do fã clube de Rosana, que prometeu entregar o “Lobas” para ela. Não posso dizer, contudo, se estes artistas leram o livro. Espero que sim.

18-MP do Brasil: Qual diferença há, entre Natal e Fortaleza? É difícil optar entre dois paraísos?

TG: Boa pergunta. Eu poderia dizer que Fortaleza é uma Natal grande, ou Natal, uma Fortaleza pequena. Mas não é tão simples assim. Em Fortaleza, nós respiramos o ar da irreverência, do humor escrachado. Natal não é assim. Natal tem um ar de filme noir, que eu gosto muito. Fortaleza é salgada. Natal é doce. Fortaleza é amarela. Natal, azul. Fortaleza é hiperativa. Natal é paciência.

Fortaleza é uma excelente cidade, que me acolheu com bastante carinho. Mas Natal... Natal é minha cidade natal... Entende?

“O pior da rede é o anonimato irresponsável, o plágio, os crimes virtuais, a bisbilhotice etc.”

19-MP do Brasil: falando da Internet. Na sua visão, destrinche o pior e o melhor da rede.

TG: O melhor é a ausência de intermediários entre autor e leitor. Na Internet, cada autor é seu próprio editor. Não há filtros externos, que tolhem a liberdade. A formação de leitores e a interação com eles são formidáveis. O pior da rede é o anonimato irresponsável, o plágio, os crimes virtuais, a bisbilhotice etc.

20-MP do Brasil: quais sites e blogs você consulta e recomenda?

TG: Primeiro vamos aos literários:

- Blog do Patrício – excelente e sensível escritor.

- Um anjo pornográfico – Márcio Benjamin sabe escrever contos de terror como ninguém

- Jovens Escribas – site do selo literário do qual faz parte meu livro Contos Bregas.

Também há aqueles em que predominam opiniões e idéias:

- Pablo Capistrano – Escritor adepto de uma literatura filosófica.

- Marlos Apyus – dono de opiniões sinceras e polêmicas

- Silenzio, no hay banda – Textos e crônicas leves e introspectivas.

E os que tratam de música popular:

- Música popular do Brasil – Trata os artistas populares com a seriedade que eles merecem.

- Bregorama – O brega impregnado no dia-a-dia

- A Fina Flor do Brega – toda a irreverência da cultura brega

21-MP do Brasil: seu atual livro, “Lobas, Deusas e Ninfetas”, já lhe proporcionou:

TG: Por meio deste livro, dei muitas entrevistas em jornais, rádio e televisão. A imprensa divulgou bastante a obra, mais até do que os Contos Bregas.

22-MP do Brasil: e os Jovens Escribas, o que é?

TG: Os Jovens Escribas são um misto de grupo literário, selo literário, editora, marca literária, e cooperativa informal de escritores. O grupo decidiu construir seu próprio caminho, criar uma editora para publicar seus próprios livros, já que as grandes editoras não costumam dar chance a autores iniciantes.

23-MP do Brasil: não se assuste com a pergunta, ela é pueril. Você já deu muitas bundacanascas e cambapés? Se não souber, pergunte para um cearense de origem interiorana.

TG: Consultei meus amigos cearenses e eles me disseram que são palavras que designam uma espécie de cambalhotas no ar (no primeiro caso) e na água (no segundo). Lembro-me de uma ponte no açude de Cruzeta, interior do Rio Grande do Norte e terra dos meus avós, de onde as pessoas pulavam n’água. Mas não sei se tive coragem de pular, pois a altura era considerável.

24-MP do Brasil: encerre a entrevista do jeito que achar melhor.

De perto, ninguém é chique!

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